Isto, definitivamente, não me podia estar a acontecer. Como é que eu fora capaz de fazer tal barbaridade? Eu não sentia nada do que dissera. As acções haviam fugido à minha vontade. Eu magoara-o, tratara-o de forma absurda e ele nunca mais me iria querer ver à frente. Perdera-o para sempre. Era bastante compreensível, de facto. Se alguém, alguma vez me fizesse algo semelhante, eu certamente teria a mesma reacção.
Sentia-me a desfalecer. De um momento para o outro, a minha vida tornara-se um autêntico degredo. O que é que era suposto eu fazer? O que é que as almas que não tinham ninguém para amar fariam nos seus tempos livres? Tinha de tentar ver o lado positivo de toda esta situação. Pelo menos, agora já conseguia perceber o desespero de que algumas pessoas tanto falavam. Já compreendia a dor e a frustração que tinham de suportar. Na realidade, eu nunca havia assimilado todos estes elementos. Para mim, tudo sempre fora bastante fácil, desde que eu e Nick nos conhecêramos. Estava errada. Imperiosamente cega e errada. Nunca tinha dado o devido valor à nossa relação. Nunca o valor merecido.
Não me saía da cabeça: como é que eu fora perder o controlo daquela maneira? Parecia bruxaria. Em condições normais, jamais teria tais atitudes. Eu estava completamente fora de mim.
- Ora viva, Mrs. McKnie! – Conelli Knight acabava de fazer uma das suas magníficas entradas, pela porta semiaberta do meu quarto que aparentava um aspecto, definitivamente, caótico. A minha hipotética melhor amiga era um ser desprezível. A sua frivolidade ultrapassava os limites da decência humana. A criatura considerava-se superior a todo e qualquer ser racionalmente capaz. Os seus extravagantes cabelos castanhos esvoaçavam, normalmente, por tudo o que era perfume e revestimento masculinos. Na sua opinião, não havia vivalma que lhe pudesse chegar sequer aos calcanhares. Considerava-se o expoente máximo da beleza feminina.
- Adeus, Conelli. – Estava farta daquela emproada. Farta da sua perseguição. Já não a suportava nem mais um único minuto. Desde cedo que ela se tentara aproximar de mim e, pelos vistos, havia conseguido. Todavia, o final da linha chegara. – Sai do meu quarto. Desaparece da minha vida de uma vez por todas! – Afinal, o bruxedo até servia para alguma coisa.
- Vais-te arrepender disto, sabias? – Cuspiu as palavras, tal como uma autêntica víbora o faria.
- Depois de saber qual é a sensação de perder a pessoa de que mais amo no mundo, nada mais me afecta. – Murmurei com as lágrimas a formarem-se-me nos olhos.
P.s. Obrigado pelos comentários :D
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