Como todas as histórias, a minha também tem um fim.
Foram muitos e longos os anos que eu demorei a perceber o significado de tudo aquilo que me tinha acontecido. Eu queria ter visto. Juro que queria ter percebido mais cedo. No entanto, o ser humano só adquire o conhecimento quando já não precisa dele.
Nick tentara aproximar-se de mim, por diversas vezes. Mandava-me flores, escrevia cartões de um desespero suplicante e, uma vez, até me chegou a fazer uma bonita serenata. Todavia, eu estava cega. Cega por um feitiço que não existia. Cega por algo que já morrera há muito tempo atrás. De facto, Conelli enfeitiçara a maldita caneta. Segundo ditam as regras da magia negra, quem possuísse o artefacto seria incapaz de amar os que mais lhe eram queridos. Mas, como não há regra sem excepção, todo aquele que amasse verdadeiramente, que desejasse acima de tudo ser feliz ao lado da pessoa amada e tivesse um coração livre e puro conseguiria quebrar o encantamento.
Eu não possuíra esse coração puro, essa alma livre e destemida para amar. Estava demasiado preocupada com as minhas acções, os meus medos e os meus fracassos. Fechara o olhos para a beleza da vida. Fechara os olhos para o canto dos passarinhos e o brilho esplendoroso de um raio de Sol. Colocara tudo em primeiro lugar, menos o mais importante. Tentara construir a casa, começando pelo telhado. Fizera tudo errado. Comportara-me como uma criança estúpida e mimada que só tinha a capacidade de contar as bonecas que existiam no seu pequeno mundo.
Passado alguns meses, os telefonemas haviam cessado, as férias de verão estavam à porta e uma nova etapa das nossas vidas acabava de começar. Desde então, nunca mais ouvira o nome de Nicholas.
Enquanto passeava à beira-mar, numa aprazível manhã de Verão, as ideias clarearam-se na minha mente. Quis correr e procurar Nick, quis abraçá-lo e pedir-lhe perdão, mas era tarde demais. Ele já refizera a sua vida. Casara-se com um mulher bonita, bem sucedida e que, acima de tudo, amava e cuidava dele. Eu não podia , agora, aparecer-lhe à frente, dizer que tinha cometido um erro descomunal, e estragar tudo aquilo que eles haviam construído.
Não havia nada como suportar a dor dos nossos próprios erros. Talvez assim, aprendesse a dar valor às coisas.
Fim
P.s Obrigado a todos os que leram a minha pequena história.
Isto, definitivamente, não me podia estar a acontecer. Como é que eu fora capaz de fazer tal barbaridade? Eu não sentia nada do que dissera. As acções haviam fugido à minha vontade. Eu magoara-o, tratara-o de forma absurda e ele nunca mais me iria querer ver à frente. Perdera-o para sempre. Era bastante compreensível, de facto. Se alguém, alguma vez me fizesse algo semelhante, eu certamente teria a mesma reacção.
Sentia-me a desfalecer. De um momento para o outro, a minha vida tornara-se um autêntico degredo. O que é que era suposto eu fazer? O que é que as almas que não tinham ninguém para amar fariam nos seus tempos livres? Tinha de tentar ver o lado positivo de toda esta situação. Pelo menos, agora já conseguia perceber o desespero de que algumas pessoas tanto falavam. Já compreendia a dor e a frustração que tinham de suportar. Na realidade, eu nunca havia assimilado todos estes elementos. Para mim, tudo sempre fora bastante fácil, desde que eu e Nick nos conhecêramos. Estava errada. Imperiosamente cega e errada. Nunca tinha dado o devido valor à nossa relação. Nunca o valor merecido.
Não me saía da cabeça: como é que eu fora perder o controlo daquela maneira? Parecia bruxaria. Em condições normais, jamais teria tais atitudes. Eu estava completamente fora de mim.
- Ora viva, Mrs. McKnie! – Conelli Knight acabava de fazer uma das suas magníficas entradas, pela porta semiaberta do meu quarto que aparentava um aspecto, definitivamente, caótico. A minha hipotética melhor amiga era um ser desprezível. A sua frivolidade ultrapassava os limites da decência humana. A criatura considerava-se superior a todo e qualquer ser racionalmente capaz. Os seus extravagantes cabelos castanhos esvoaçavam, normalmente, por tudo o que era perfume e revestimento masculinos. Na sua opinião, não havia vivalma que lhe pudesse chegar sequer aos calcanhares. Considerava-se o expoente máximo da beleza feminina.
- Adeus, Conelli. – Estava farta daquela emproada. Farta da sua perseguição. Já não a suportava nem mais um único minuto. Desde cedo que ela se tentara aproximar de mim e, pelos vistos, havia conseguido. Todavia, o final da linha chegara. – Sai do meu quarto. Desaparece da minha vida de uma vez por todas! – Afinal, o bruxedo até servia para alguma coisa.
- Vais-te arrepender disto, sabias? – Cuspiu as palavras, tal como uma autêntica víbora o faria.
- Depois de saber qual é a sensação de perder a pessoa de que mais amo no mundo, nada mais me afecta. – Murmurei com as lágrimas a formarem-se-me nos olhos.
P.s. Obrigado pelos comentários :D
Senti um vento glacial atingir-me o corpo aquando do meu primeiro contacto com aquele estranho objecto mítico. Uma aragem tão grotesca e ameaçadora que faria estremecer o mais valente dos soldados. Algo poderoso e sobrenatural. Como se a mais diabólica das maldições tivesse acabado de se abater sobre mim.
- Não gostaste? – Inquiriu Nick a medo. Como era possível que ele pudesse sequer imaginar que eu não iria gostar de um presente seu?! Ele conhecia-me por dentro e por fora.
- É óbvio que não! Que te passou pela cabeça para comprares esta porcaria? – O que é que eu acabara de dizer?! Como é que eu pudera ser tão ingratamente estúpida?! As palavras estavam a fugir ao meu controlo. – Sai do meu quarto. Rua! Não te quero ver nunca mais!
P.s Eu sei que o capítulo é muto pequenino...masapeteceu me brincar com vocês :D
- Larga-me! Deixa-me sair daqui! – Uma mão. Uma mão escura, e degrada teimava em manter-me prisioneira nas sombras. Uma densa coberta de fumo negro e fastidioso impedia-me de ver as feições do meu agressor. – Nick, ajuda-me! – Gritei histericamente enquanto o meu corpo suado se erguia na direcção de uma intensa luz matinal.
As minhas mãos tremiam louca e compulsivamente. O seu grito tinha a mesma frequência que tem a dor de uma mãe ao perder o seu filho recém-nascido. Lágrimas salgadas começaram a brotar, violentamente, do mais íntimo do meu ser. O meu coração chorava de amargura e desespero. O meu coração pressentia uma brecha dolorosa no meu destino, uma ferida que podia nunca mais vir a sarar.
- Happy Birthday, Sweetheart! – Por momentos, tudo aquilo que havia vivido com Nick, parecia não ter passado de uma miragem, da mais agradável das miragens. A sua presença no meu quarto não passaria de um desejo infantil, de um sonho inconcebível.
- Princesa, sentes-te bem? – Alguém me abanava carinhosamente o ombro. O seu rosto ostentava uma máscara de verdadeiro terror e preocupação descomedidos.
Quando percebi que o meu devaneio era real, agarrei instintivamente o esqueleto trémulo de Nicholas, esmagando o meu suposto bolo de aniversário contra os nossos corpos escanzelados. Tinha tanto medo de o perder. Ele era o meu mundo. O meu oxigénio quantizado.
- O que te aconteceu? – Perguntou, afastando-me com todo o cuidado. Nunca vira Nick tão inquieto e ansioso.
- Um pesadelo. Foi só um pesadelo. – Esbocei um sorriso forçado com o carvão que ainda me restava. Não devo ter sido suficientemente convincente, pois a sua preocupação não abrandara nem um só centímetro. – Vá, come um pedaço de bolo. – Dividi o que me pareceu ser uma fatia de bolo meticulosamente cortada com o auxílio das minhas duas mãos. Coagi Nick a experimentar aquele emaranhado de massa folhada e creme esbranquiçado com aroma a caramelo e baunilha.
- Tu também o devias experimentar. Está delicioso. – Gargalhou ao cobrir a minha boca com aquela massa de conteúdo duvidoso. Não havia nada que se equiparasse a começar um belo dia, na cama, com a pessoa que mais amamos.
- Alguma vez te expliquei o quanto te amo? – Murmurei lentamente com os lábios encostados ao seu ouvido.
- Parece-me que não. – Tentou provocar-me com um brilho malicioso a descoberto no olhar. – A propósito, esqueci-me de te dar a tua prenda. – Apressou-se a procurar o embrulho que se encontrava atrás de si. - Tchanan!
Os presentes. Eu sempre analisara as prendas que recebia de uma forma bastante peculiar. Para mim, o mais importante não era o conteúdo, mas sim, a surpresa. Está claro que, o seu significado também era muito importante. No entanto, o período de tempo em que se formava toda aquela expectativa do que seria ou do que não seria, fascinava-me.
O embrulho era delgado, possuía uma forma oval e uma laço distinto. Desmanchei o embrulho com esmero. Uma caneta. Uma bela e formidável caneta antiga bordada a ouro.
P.s Obrigado a todos os que comentaram. Vocês são espectaculares!
- Nicholas, pára! – Exclamei irritada. Por vezes, aquele ser presunçoso deixava-me mesmo fora de mim. As cócegas continuavam incessantemente. Como é que alguém conseguia ser tão estranhamente persistente?! – Já te disse para parares! – Ordenei tão seriamente quanto me foi possível. Não resisti ao seu encanto natural e desatámos os dois às gargalhadas, nos braços um do outro.
- Por mais que te esforces, sabes que nunca conseguirás resistir-me! – Afirmou gloriosamente depositando-me um beijo carinhoso nos lábios.
Felizmente, Nick tinha razão. Eu já não tinha capacidade para imaginar os meus dias sem o doce do seu sorriso, sem a magia do seu olhar ou mesmo sem a ternura do seu toque na minha pele caramelizada. Era-me impossível traçar um futuro onde o amante dos meus dias não existisse.
O destino havia-nos tornado inseparáveis pelas mais diversas e variadas razões. As circunstâncias em que nos conhecemos ficarão guardadas na minha memória para todo o sempre. Não há um único dia, em que não lembre daquela tarde solarenga de Abril junto ao rio. Eu saíra de casa para tentar esquecer os problemas que rodeavam a minha aura, habitualmente, congestionada. Para mim, não havia nada melhor do que um passeio ao ar livre para arejar as ideias. Sentei-me junto a um carvalho antigo e, do pé para a mão, desatei aos berros.
- Será que me consegues explicar? Explica-me porque é que estas coisas só me acontecem a mim? – Dirigia-me seriamente às águas do rio. Ao mesmo tempo, lançava-lhes, furiosamente, um emaranhado de pequenas pedras angulosas que perturbavam a profunda serenidade dos míticos seres que lá habitavam.
- Talvez a Mãe Natureza tenha inveja do verde dos teus olhos e, ande a virar o Deus lá de cima contra ti... – Quase caí à água quando ouvi uma voz aveludada junto do meu corpo. Não existia melodia mais harmonia. A partir daquele instante, a sua voz era como que uma droga, tornara-se o meu vício mais belo e apetecível.
- Not again! – Resmunguei entre dentes.
O nosso primeiro beijo teve como tela de fundo o pôr-do-Sol no mar. Os últimos raios de Sol fundiam-se com o azul-prateado marinho. Caminháramos, à beira-mar, enquanto partilhávamos um delicioso gelado de chocolate e morango com pepitas de chocolate branco. Estatelámo-nos na areia enquanto lutávamos, carinhosamente, pelo último pedaço de bolacha. Nesse momento, o corpo de Nick moldava o meu por inteiro. As nossas bocas aproximaram-se muito devagar. Os nossos lábios tocaram-se. Os nossos corações palpitavam sincronizadamente. O mundo parou por alguns segundos. Existíamos apenas nós os dois. Dois corpos sedentos de desejo, duas almas unidas pelos laços do amor eterno. Um emaranhado de sentimentos incandescentes.
- A sonhar acordada, princesa? – Nick analisava cuidadosamente a minha expressão.
- Não preciso de sonhar quando tu estás aqui mesmo ao meu lado. – Abracei-o com toda a minha força. Momentaneamente, senti uma vontade insuportável de nunca mais o largar. Queria ficar assim para sempre.
P.s Obrigado`pela music Prongs. Obrigado Best, Puky, Ana, Blondy, Manel, Costa. Espero também te poder agradecer Lopes
Há muitos, muitos anos atrás, numa terra distante e solitária cresceu uma bruxa depravada... Ela não nascera bruxa! Houve tempos em que Conelli fora apenas uma criança que, como todas as outras, necessitava do carinho e da atenção dos seus pais. Foi aí que começaram os problemas. A pobre idiota não percebia que os seus pais não prestavam, não percebia que as palavras ríspidas e os maus tratos não eram exemplo para ninguém. Quando tentou fazer amigos utilizou os mesmos modos agressivos a que estava habituada, e acabou por perder todos os que alguma vez teve a capacidade de amar.
No dia em que completou o seu décimo oitavo aniversário, Conelli partiu numa busca longa e solitária pela felicidade. Sem saber o que fazer ou para onde ir, tomou o caminho mais fácil e, também, o mais penoso: dirigiu-se para uma densa e profunda floresta situada perto dos cumes de um vulcão activo. Os terrenos eram férteis e produziam as mais intensas plantas medicinais e afins.
No local mais recôndito da Floresta das Tríadas, existia uma velha caverna abandonada que lhe serviu de refúgio, numa infernal noite de tempestade. Ao tropeçar num rebordo de madeira de dimensões insignificantes, Conelli descobriu uma passagem secreta para uma biblioteca subterrânea. Ao que parecia, o seu porto de abrigo já havia sido habitado anteriormente.
Começou por pegar num velho exemplar de capa dura que aparentava possuir várias centenas de anos. O seu mundo parou por alguns segundos. A cura para a sua dor parecia encontrar-se diante dos seus olhos. Feitiços. Bruxaria. Magia negra. Cura para a infelicidade humana, sim, esse fora o título que mais lhe chamara a atenção.
Trabalhou arduamente durante longos meses. Pesquisou sobre plantas, técnicas de confecção e os melhores sítios para encontrar os ingredientes de que necessitava.
Ingredientes:
· 500 g de Pimpinella anisum
· Uma folha de Urtica urens fresca
· Saliva de unicórnio
· Uma pitada de sal-amor
· Leite de cabra q.b.
Procedimento:
· Ferver num caldeirão as 500 g de Pimpinella anisum com um pouco de leite de cabra, até formar uma densa nuvem de vapor.
· Adicionar a folha de Urtica urens fresca e a saliva de unicórnio. Misturar cuidadosamente.
· Por fim, aromatizar com uma pitada de sal-amor. Beber ainda quente.
Nota: Surte maior efeito se preparado numa noite de lua cheia.
Chegara, finalmente, a derradeira noite. Estava tudo preparado até ao mais ínfimo dos pormenores. Nada poderia correr mal.
E, assim foi. Conelli tomou a poção ainda antes da meia-noite.
***
Os dias passavam mas nada acontecia. A bruxa sentia-se cada vez mais impaciente. Não conhecia o aspecto da felicidade, contudo duvidava que fosse parecido com aquilo que havia vindo a sentir naqueles últimos tempos.
A amargura corrompia o que ainda de aceitável lhe restava no coração. Não havia maneira de sentir algo de bom. Por mais que desejasse, o vazio não desaparecia. O azedume era de tamanho tal, que a tornava incapaz de pensar sequer em suportar a felicidade alheia.
Um pressentimento de morte assolava-lhe os pensamentos. Something like a nightmare. Conelli tinha a noção de que ia morrer dentro em breve.
Queria vingar-se das pessoas que a repudiaram. Queria vingar-se do mundo que a abandonara. Iriam arrepender-se amargamente.
“O Amor. Toda a gente sobrevaloriza o Amor. O Amor é o tesouro mágico e precioso que move as pessoas. Então, vamos tirar-lhes a vontade de viver!” pensou a depravada.
***
O vulcão da Floresta das Tríadas entrou em erupção na Primavera de 1977. A lava soterrou a caverna da bruxa e tudo o que ela continha.
P.s. Obrigado best...Foi ela que decorou o Blog!
Diva obrigou-me, silenciosamente, a abrir caminho até aos lavatórios femininos. Agora, podia afirmar, com toda a certeza, que estava aterrada.
- Achavas mesmo que eu não dava pela tua presença, huh? – Gargalhou tristemente. Se eu não estivesse completamente descontrolada, diria que a minha futura assassina estava mais apavorada do que eu. – Já chega conversas...Entra aí e não me faças perder a paciência! Até te vou fazer um favor. Podias ter de ficar a apodrecer na cadeia durante uns bons pares de anos.
Mantinha-me calada. Nada como morrer com alguma dignidade.
- Qual é o teu último desejo? – A derradeira formalidade. Permanecia sentada numa tampa de sanita.
- Sai daqui, Diva! Porque é que tinhas de ter metido neste assunto?- Debora apareceu do nada, renascera de cinzas esquecidas. A sua expressão emanava uma demência reprimida, uma loucura assassina.
- Porquê? Porque sou tua irmã, minha pobre idiota! Porque te amo e não te quero ver atrás das grades, a apodrecer por causa de um amor não correspondido! Porque tu és uma porra de uma imperialista, com a mania das superioridades. – A surpresa não chegava para encobrir o desgosto patente nas suas palavras amargas.
Fiquei sem saber o que fazer. Um momento de família! Eu, não estava de todo, preparada para tal situação.
- Eu... desculpa ... não te quero meter nisto. – Lamentou sinceramente.
Pum!
Um tiro. Uma bala certeira no coração. Uma vida tirada, outra destruída.
Donatella empunhava uma arma de fogo por entre as suas mãos trémulas. Todo o seu corpo reagia violentamente àquele atentado. As lágrimas não paravam de correr pelas suas faces atormentadas.
- Ela assassinou a minha razão de viver. A minha irmã não merecia viver. – Caiu, prostrada no chão de joelhos. Ouvi o segundo disparo daquele dia. Donatella suicidou-se, e assim, seguiu caminho para junto da pessoa que mais amava.
A navalha que Diva, anteriormente, amparava na minha direcção voou sobre o soalho com uma melodia abafada.
Fim
Não é o último, ainda...
Sentia medo. O simples e aterrador medo de falhar. Como poderia viver comigo mesma se não conseguisse vingar a morte do meu único, sincero e leal amigo? Como poderia olhar-me ao espelho, daí em diante, e ver apenas uma mulher derrotada pelas atrocidades da vida? Elas eram tão aterrorizadoramente belas. Como iria eu, a mais comum das mortais, provar que uma delas havia cometido tamanha barbaridade?
Entrei num táxi com a máxima discrição possível. Pedi-lhe que seguisse o volumoso Mercedes preto onde entrara a família real e rezei baixinho para que tudo desse certo. Não que eu alguma vez tivesse acreditado que, outrora tenha havido um Messias que descera dos céus por meio da Virgem Maria, a fim de nos absolver a todos nós. Mas sim, porque precisava de acreditar em alguma coisa superior a mim e à minha fraca existência. Precisava de ter fé. Precisava de uma convicção em que me apoiar. Precisava de voltar a respirar. Tinha a sensação de que todo o oxigénio que havia à minha volta, se estava a esgueirar por uma porta entreaberta, uma porta que devia estar mais do que trancada, uma porta que devia estar destruída, aniquilada, queimada com o fogo amaldiçoado do inferno.
A cerca de meio quilómetro de distância, vi o seu carro entrar pelo portão de uma mansão abrilhantada e colossalmente elegante. Ordenei, abruptamente, ao taxista que parasse o carro. Já sabia onde caçar a minha presa e não queria, de todo, ser descoberta.
Paguei, saí do automóvel e dirigi-me ao bar mais próximo. Não me sentia em casa, nem nada que se parecesse, contudo não tinha meios ou tempo para fazer algo melhor. Resguardei-me numa cadeira ao fundo da sala e esperei que um anjo da morte me tomasse nos seus braços gelados.
- Por aqui, boneca? – Senti os meus pêlos das costas eriçarem-se quando a lâmina afiada de uma navalha me roçou a pele. Era o fim.
Well, este foi um longo para mim. Aconteceram muitas coisas. Umas mudaram para pior outras para mehor. Queria que soubessem que esta é das únicas partes de mim em que me orgulho bastante do que faço e parte disso é graças a voçês e aos vossos comentários. Quero agradecer-vos e desejar-vos a todos um Feliz 2009 :D.
Para ti Jealous.
Supostamente este iria ser o útimo capítulo, mas parece-me que seja apenas o penúltimo.
Donatella foi aprendendo, ao longo de toda a sua curta existência, a abandonar a esperança de poder contar com as pessoas que amava. Sempre que alguém entrava na sua vida miserável, deixava mais do que um rasto de dor, deixava um vazio irreparável, deixava uma sede insaciável de carinho e atenção.
O extenso muro que camuflava os meus sentimentos parecia completa e absolutamente intransponível, até Edward aparecer na minha vida como uma flecha afogueada. Ele derretera o ice berg que rodeava o meu coração, ele transformara a escuridão em que os meus dias se haviam tornado no mais belo e brilhante dos arco-íris. Nada jamais me havia destruído como aquele ser mítico e encantado. Como poderia eu lutar contra o invencível? Como poderia resistir ao irresistível? Como poderia não magoar as duas pessoas que mais me importavam no mundo, quando elas me queriam roubar a única razão que tinha para continuar a respirar segundo após segundo?
Os acontecimentos atropelaram-se uns aos outros como se de uma torrente de água num rio se tratasse. Ao início, o orgulho de Debora não lhe permitiu demonstrar o que sentia verdadeiramente. Ficando apenas uma disputa aberta entre mim e Diva. Eu nunca iria começar uma guerra, entre alguém que me fosse querido, de ânimo leve. Pensara e repensara em todos as consequências dos meus actos, mas os meus sentimentos por Edward eram algo que me ultrapassava.
A minha irmã loira e apetitosa não despertava grande interesse em Edward. Podia afirmar que ele era demasiado culto e sentimental para se preocupar com as horas que ela gastava no ginásio ou com a exuberância de dinheiro que despendia sempre que punha os pés num centro comercial. O que até certo ponto me facilitava as coisas.
Começámos a sair juntos. Jantávamos em magníficos restaurantes de Gourmet, partilhávamos alguns dos nossos serões no meu apartamento e assistíamos às mais cativantes peças de teatro. Depois veio a gota de água, anunciámos a nossa ida de férias, de uma semana, a Londres. Foi o desastroso, foi o desabamento dos últimos pilares que ainda suportavam o que restava da nossa família.
Debora sofria num silêncio reprimido que me agoniava o estômago. As palavras de Diva haviam-se tornado intoleráveis. E, o meu pobre Dimitri desesperava pelo nosso futuro. Já pouco me interessava. Afinal, elas nunca tinham merecido nada daquilo que eu fizera, não mereciam o meu esforço nem o meu sacrifício.
Parti para Londres. Passei os melhores cinco dias de sempre. Visitámos os locais mais esplendorosos, corremos pelos parques que nem loucos, rimos até não poder mais, bebemos para evitar lembrar o que não fazia falta, e acima de tudo amámo-nos como dois amantes vigorosos.
* em homenagem ao meu querido amigo Costa que se esforçou imansamente para me fazer um comentário e também para a Ana Kaulitz que leu o que escrevo pela primeira vez :D
Once upon a time there was a beautiful princess who lived in a magical castle with her happy and loyal family. A princesa Donatella era a mais velha de três irmãs. Todas elas se amavam e respeitavam mais do que a qualquer outra pessoa. Quando o tempo assim o permitia, costumavam fazer longos passeios a cavalo pelos densos lagos e campos verdejantes que constituíam o seu magnífico reino. Aos fins de semana, os senhores seus pais faziam-lhes companhia num harmonioso piquenique, perto de uma enorme e profundamente bela cascata, rodeada de um pequeno arvoredo e de uma carreira rochas que atravessava o seu leito.
As suas vidas não podiam ser mais perfeitas, até ao dia em que o seu pior pesadelo se tornou na mais dura das realidades. O rei e a rainha faleceram num trágico acidente de viação.
Com o passar dos tempos as virtudes das suas irmãs deram lugar a uma interminável maré de defeitos e consternações. Dimitri, o velho e solteiro amigo da família, foi quem as ajudou e acompanhou naquele momento tão difícil.
As contas para pagar eram cada vez mais e os fundos monetários estavam a ficar vazios. O empobrecimento levou as três damas a lidarem com um dos negócios mais velhos de Nápoles, o tráfico. Não demorou até que ficassem a ser conhecidas como o triângulo mais poderoso de toda a Máfia Italiana.
E, como todo o castelo tem de ter o seu príncipe, Edward não tardou a aparecer. O perfume, a doçura do seu olhar cremoso, a textura com sabor a algodão doce e o comprido casaco que lhe conseguia um traço majestoso não deixavam ninguém indiferente à sua presença,
Agora, os problemas mantinham-se. Qual das princesas o conquistaria primeiro?
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